segunda-feira, 12 de maio de 2008

TESTEMUNHO (I) - OS TRÊS «ECOS DO MÉXICO»

Recebemos de Ruy de Paiva e Pona, familiar de F. Vieira de Sá, um texto - inspirado pela leitura de Ecos do México: Da História e da Memória e de um poema de Viagem ao Correr da Pena - que a seguir se reproduz sem mais comentários.
FERNANDO:

Vejo com satisfação que te converteste, ou te converteram, aos segredos da Internet! São inúmeras as suas vantagens das quais não é a menor o permitir que deixe o testemunho de quanto aprecio a força com que demonstras as tuas ideias quer quando recordas o passado quer quando, nas nossas conversas, criticas o presente e arquitectas o futuro…

Não sei se já reparaste que só existe o «passado»…

Quanto ao «futuro», não é mais que um tempo potencial medido por uma sucessão de imagens virtuais por nós concebidas; o «presente» é uma mera fronteira de transição entre o tempo real, passado, e o tempo virtual, futuro. Quando pensamos no presente… é já passado…

Como escreve o autor de «As Palavras Caladas», na nossa vida há dois mundos: um «mundo exterior», por um lado, mundo real definido pela passagem das coisas e das pessoas, das crianças que nascem e dos velhos que morrem, o mundo que divide as pessoas conforme a sua riqueza, o seu poder, a sua saúde ou a sua beleza; por outro lado há um «mundo interior», mundo da luz que esbate os muros, as divisões e os contrastes, que produzem a ilusão do tempo! Será este o tempo interior de Bergson?

E, vem isto a propósito da leitura dos teus livros, particularmente dos «Ecos do México», que estive agora a reler. Nele encontro três livros: o primeiro relata a História do México desde a origem pré-colombiana até à actualidade, da sua cultura e da sua arte; no segundo revives uma vida de cinco anos mexicanos, marcantes para a Maria Elvira e para ti, na recordação a dois da paisagem e das gentes, do trabalho feito e da aventura…; finalmente, no epílogo, no «Regresso ao Torrão», num livro de duas páginas, condensas o teu mundo interior e onde ressalta a importância da participação da Maria Elvira, «uma mulher inteligente, dinâmica, estudiosa e culta, com grande bom-senso, corajosa, determinada e com um grande sentido da vida, da conciliação e da bondade, tudo na aparência de uma modéstia comovente» como tu dizes.

Também a mim me comoveu!

Como tu, quase com as mesmas palavras, recordo a Maria Helena que «com a sua maneira de ser modesta e quase apagada esteve sempre presente; companheira sempre disponível e constante, sempre pronta, com a sua inteligência e o seu bom-senso, a dar o conselho e a ajuda certos nos instantes e nas circunstâncias difíceis da nossa vida. Sempre pronta a receber os meus amigos e dos meus filhos, sempre pronta a governar e a manter a casa impecável… e tudo sem dar nas vistas, sem se sentir! A sua sensibilidade às circunstâncias e às pessoas fazia que aqueles com quem contactava ficassem suas amigas…»

No teu poema «Metamorfose» dizes, numa visão premonitória, palavras que creio se aplicam às nossas duas Mulheres:
Partiste,
mas deixaste na terra raízes.
O tempo venceu-te,
mas deixaste na terra raízes.

Um abraço grande do

RUY

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